O QUE É O ESPIRITISMO?
Os principios básicos da doutrina Espírita é um conjunto de leis, reveladas pelos Espíritos Superiores, contidas nas obras de Allan Kardec. O Espiritismo veio recordar e complementar os ensinamentos de Jesus. Alguns dos princípios do Espiritismo são:
a existência de Deus;
a imortalidade da alma;
a reencarnação;
o esquecimento temporário das vidas passadas;
a comunicabilidade dos espíritos;
a fé raciocinada;
a lei da evolução;
a lei do amor;
a pluralidade dos mundos habitados.
O Espiritismo responde às questões fundamentais da vida: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Por que estamos aqui? É um conjunto de ensinamentos que oferece uma visão ampla e racional da existência humana e permite que iniciemos uma transformação íntima, aproximando-nos de nós mesmos e de Deus.
Por que frequentar uma Casa Espírita?
A Casa Espírita possui o ambiente propício à nossa evolução. Sob a orientação da Espiritualidade Superior, ela oferece atividades que auxiliam o indivíduo no seu processo de autodescobrimento, e reforma íntima contínua.
O LIVRO DOS ESPÍRITOS - 1857
Obra básica da Doutrina Espírita, publicada em 18 de abril de 1857. Aborda os aspectos científico, filosófico e religioso do Espiritismo. É composto de 1019 perguntas divididas em quatro partes: "Das Causas Primárias", "Do Mundo Espírita", "Das Leis Morais" e "Das Esperanças e Consolações". Cada parte deu origem a um dos demais livros do Pentateuco.
O LIVRO DOS MÉDIUNS - 1861
É o livro básico da Ciência Espírita. Aborda questões sobre a mediunidade, sua prática e fundamentos.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - 1864
Tem como objetivo ser um código moral universal, sem distinção de culto, ao alcance de qualquer pessoa. Seu conteúdo consolador traz a Moral do Cristo e se resume numa análise profunda do Sermão da Montanha.
O CÉU E O INFERNO - 1865
Kardec faz um balanço da evolução moral e espiritual da humanidade. A eterna questão da continuidade da vida após a morte é despida dos aparatos mitológicos para mostrar-se à luz da razão esclarecida.
A GÊNESE - 1868
Trata das causas primárias dos milagres e das predições, com as novas leis que decorrem da observação dos fenômenos espíritas.
REVISTA ESPÍRITA - 1858
A Revista Espírita foi um periódico espírita francês, que circulou no último quartel do século XIX. Lançada a 1 de janeiro de 1858 pela Sociedade de Estudos Espíritas, de Paris, e era editado por Allan Kardec.
ESPIRITISMO NO BRASIL
Em breve!
EVANGELHO NO LAR
"Povoara-se o firmamento de estrelas, dentro da noite prateada de luar, quando o Senhor, instalado provisoriamente em casa de Pedro, tomou os Sagrados Escritos e, como se quisesse imprimir novo rumo à conversação que se fizera improdutiva e menos edificante... Então Jesus, convidando os familiares do apóstolo à palestra edificante e à meditação elevada, desenrolou os escritos da sabedoria e abriu, na Terra, o primeiro culto cristão no lar."
Trecho do livro 'Jesus no Lar'. Espírito Neio Lúcio, por Francisco Cândido Xavier.
O Evangelho no Lar é o estudo em família da doutrina do Cristo. Que nos faz compreender melhor o Evangelho , levando-o para o dia-a-dia. Para harmonizar a ambiência do lar, facilitando o auxílio dos mentores espirituais, uma vez que a prece e o estudo colocam a família em sintonia com esses benfeitores.
Quando realizamos o Culto do Evangelho no Lar temos a nossa casa iluminada pela presença dos bons Espíritos, que sempre estarão presentes, mas também outros lares ao redor serão beneficiados com a realização rotineira do Estudo das lições de Jesus.
Roteiro para a realização do Evangelho no Lar:
Escolha um dia da semana e defina um horário fixo para a reunião com os familiares. O Evangelho no Lar deve ser feito por todos os que desejarem participar, podendo até ser feito por uma só pessoa.
A duração do culto poderá ser de 20 minutos ou mais.
Providencie uma jarra com água para ser fluidificada durante o culto.
Faça uma prece de abertura (simples e espontânea).
Leia e comente um trecho de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
Caso deseje, faça uma leitura complementar com outra(s) obra(s) doutrinária(s), comentando-a(s) em seguida.
Faça uma prece de encerramento (pode-se agradecer a Deus pela vida, rogar a Jesus proteção para o lar ou pedir pelos necessitados encarnados e desencarnados).
Sirva um pouco de água fluidificada para os participantes.
Sugestões de livros para estudo no Evangelho no Lar:
O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Alan Kardec
O Livro dos Espíritos, de Alan Kardec
Pão Nosso, de Francisco Cândido Xavier
Fonte Viva, de Francisco Cândido Xavier
O Espírito da Verdade, de Francisco Cândido Xavier
Parábolas Evangélicas, de Rodolfo Calligaris
Pai Nosso, de Francisco Cândido Xavier (para as crianças)
Alvorada Cristã, de Francisco Cândido Xavier (para as crianças)
Caso seja necessário, agende com o CEAS a primeira reunião para a instalação do Culto do Evangelho no Lar em sua casa, onde um trabalhador irá estar presente para demonstrar como fazer.
Allan Kardec
Hippolyte Léon Denizard Rivail foi um pedagogo e escritor francês que nasceu em Lyon, no dia 3 de outubro de 1804.
Estudou na Escola de Pestalozzi, na Suíça, e posteriormente, em Paris, tornou-se mestre em Letras e em Ciências. Publicou numerosos livros didáticos e notabilizou-se como o coordenador e codificador do Espiritismo, sob o pseudônimo de Allan Kardec, a fim de diferenciar a Codificação Espírita dos seus trabalhos pedagógicos anteriores.
Kardec tomou ciência dos fenômenos das “mesas girantes” em 1854, por meio de seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data. Começou então a frequentar reuniões em que tais fenômenos ocorriam. Convencendo-se de que o movimento e as respostas complexas das mesas deviam-se à intervenção de espíritos, dedicou-se à compreensão dessa realidade, baseando-se nos conhecimentos científicos, filosóficos e religiosos.
Sua missão foi dar vida a uma nova doutrina, que viria dar luz aos homens, esclarecer consciências, renovando e transformando o mundo: a Doutrina Espírita. Em 1857 publicou o Livro dos Espíritos, seguido pelo Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Foi responsável pela edição da Revista Espírita e também pela criação da primeira Sociedade Espírita.
Kardec desencarnou em Paris, em 31 de março de 1869. Em sua lápide lê-se: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei”.
Bezerra de Menezes
Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, natural de Riacho do Sangue - CE e nascimento: 29 de agosto de 1831.
Desencarne: 11de abril de 1900
Profissão: Médico, Redator e político (vereador, prefeito, deputado e senador)
Família: 1ª esposa - Maria Cândida de Lacerda (desencarnou em 24 de março de 1863) com quem teve dois filhos; 2ª esposa - Cândida Augusta de Lacerda Machado com quem teve sete filhos.
Obras literárias: A casa assombrada; A loucura sob novo prisma; A Doutrina Espírita como filosofia teogônica (Uma carta de Bezerra de Menezes); Casamento e mortalha; Pérola Negra; Evangelho do Futuro. Também traduziu o livro Obras Póstumas de Allan Kardec.
Descendente de família antiga no Ceará ligada à política e ao militarismo, foi educado segundo padrões rígidos e princípios da religião católica. Aos sete anos de idade entrou para a escola pública da Vila Frade, aprendendo os primeiros passos da educação elementar. Em 1842 sua família muda-se para o Rio Grande do Norte, em conseqüência de perseguição política. Matriculou-se na aula pública de latinidade na antiga vila de Maioridade. Em dois anos preparou-se naquela língua de modo a substituir o professor.
Em 1846, a família novamente se muda para o Ceará, fixando residência na capital. Entrou para o Liceu, ali existente, e completou seus estudos preparatórios como o primeiro aluno do Liceu. No ano de 1851, o mesmo da morte de seu pai, mudou-se para o Rio de Janeiro, ingressando no ano seguinte, como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Para poder estudar, dava aulas de Filosofia e Matemáticas. Doutorou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina, defendendo a tese: "Diagnóstico do cancro". Candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina com a memória "Algumas considerações sobre o cancro, encarado pelo lado do seu tratamento", sendo empossado em 1º de junho de 1857. Em 1858 foi nomeado "cirurgião-tenente". Também sendo, no período de 1859-61, redator dos "Anais Brasilienses de Medicina" da Academia Imperial de Medicina.
Casou-se com Maria Cândida de Lacerda, em 6 de novembro de 1858, que faleceu a 24 de março de 1863, deixando-lhe 2 filhos.
Em 1861 inicia sua carreira política, foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro, tendo que demitir-se do Corpo de Saúde do Exército. Na Câmara Municipal da Corte desenvolveu grande trabalho em favor do "Município Neutro", na defesa dos humildes e necessitados. Foi reeleito para o período de 1864-1868. Retornou à política no período de 1873 à 1881, ocupando várias vezes as funções de presidente interino da Câmara Municipal da Corte, efetivando-se em julho de 1878, cargo que corresponderia ao de prefeito nos dias atuais, nunca obtendo favores do governo para as suas candidaturas. Foi eleito deputado geral do Rio de Janeiro de 1867, no entanto a Câmara foi dissolvida no ano seguinte e o Dr. Bezerra só exerceria o papel de deputado no período de 1878 à 1885, sem jamais ter contra ele qualquer ato que desabonasse sua vida pública.
Criou a Companhia de Estradas de Ferro Macaé a Campos, e construiu aquela ferrovia vencendo inúmeras dificuldades. Empenhou-se na construção da via férrea de Santo Antônio de Pádua, foi diretor da Companhia Arquitetônica e presidente da Carris Urbanos de São Cristóvão. Ao longo da vida acumulou inúmeros títulos de cidadania.
Durante a campanha abolicionista com espírito prudente e ponderado escreveu "A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extinguí-la sem danos para a Nação". Expôs os problemas de sua terra, no estudo "Breves considerações sobre as secas do Norte". Escreveu ainda biografias sobre homens célebres. Foi redator de "A Reforma" órgão liberal na Corte, e redator do jornal "Sentinela da Liberdade", concluindo sua carreira política no ano 1885.
Conheceu o Espiritismo no ano 1875, através de um exemplar de O Livro dos Espíritos, oferecido pelo seu tradutor, Dr. Joaquim Carlos Travassos. Lançado em 883 o "Reformador", tornou-se seu colaborador escrevendo comentários judiciosos sobre o Catolicismo. No dia 16 de agosto de 1886, ante um auditório de pessoas da "melhor sociedade", proclamava solenemente a sua adesão ao Espiritismo, tendo inclusive direito à uma nota publicada pelo jornal "O Paiz" em tons elogiosos.
Passou então a escrever livros que se tornariam célebres no meio espírita. Em 1889, como presidente da FEB, iniciou o estudo metódico de "O Livro dos Espíritos". Traduziu o livro "Obras póstumas". Durante um período conturbado do movimento espírita manteve-se afastado do meio tendo hábito somente a freqüência ao Grupo Ismael no qual eram estudadas obras de Kardec e Roustaing., enquanto a FEB declinava por problemas financeiros. Foi convidado a assumir a presidência FEB, cuja conseqüência foi a vinculação da Federação ao Grupo Ismael e a Assistência aos Necessitados. Nesta ocasião foi redator-chefe do Reformador. Defendeu o direitos e a liberdade dos espíritas contra certos artigos do Código Penal. Presidiu outras instituições espíritas e terminou esta existência no dia 11 de abril de 1900, recebendo na primeira página de "O Paiz" um longo necrológico, chamando-lhe de "eminente brasileiro", e honras da Câmara Municipal da Corte pela conduta e pelos serviços dignos.
Cairbal Schutel
Nascido na cidade do Rio de Janeiro, a 22 de setembro de 1868 e desencarnado em Matão, Estado de S. Paulo, no dia 30 de janeiro de 1938. No dealbar do século XX, quando eram ensaiados os primeiros passos no grandioso programa de divulgação do Espiritismo, e quando a Doutrina dos Espíritos era vista como uma novidade que vinha abalar os conceitos até então prevalecentes sobre a imortalidade da alma e a comunicabilidade dos Espíritos, dentre os pioneiros da época, surgiu um vulto que se destacou de forma inusitada, fazendo com que a difusão da nova Doutrina tivesse uma penetração até então desconhecida.
O nome desse seareiro era Caírbar de Souza Schutel, nome esse que se impôs, em pouco tempo, ao respeito e consideração de todos. Ele jamais esmoreceu no propósito de fazer com que a nova revelação, que vinha fazer o mundo descortinar novos horizontes e prometia restaurar, na Terra, as primícias dos ensinamentos legados por Jesus Cristo quase vinte séculos antes, pudesse conquistar os corações dos homens, implantando- se na face do nosso planeta como uma nova força cujo objetivo básico era de extirpar o fantasma do materialismo avassalador.
Biografar um vulto dessa estirpe não é fácil tarefa, uma vez que as suas atividades não conheciam limitações nem eram bitoladas por conveniências de grupos ou de pessoas. Conseqüentemente, tudo aquilo que se disser sobre Caírbar Schutel não passa de uma súmula muito apagada de uma vida cheia de lutas, de percalços e sobretudo de ardente idealismo.
Registraremos, entretanto, alguns dados biográficos desse insigne batalhador espírita:
Caírbar de Souza Schutel, aos nove anos de idade, ficava orfão de pai e, seis meses após, de mãe. Seu avô, Dr. Henrique Schutel, interessou- se pela sua educação, matriculando- o no Colégio Nacional, depois Colégio D. Pedro II, onde estudou durante dois anos.
Animado de novos propósitos, abandonou os estudos e a casa do avô, passando a trabalhar como prático em farmácia, o que fez com que, aos 17 anos de idade já se tornasse respeitaável profissional desse ramo. Nessa época abandonou a antiga Capital Federal e rumou para o Estado de S. Paulo, onde se localizou primeiramente em Piracicaba e logo após em Araraquara e Matão. Esta última cidade era então um lugarejo muito singelo, com poucas casas e dependendo quase que exclusivamente do comércio de Araraquara, a cujo município pertencia.
Nessa humilde cidade, Caírbar Schutel acalentou o propósito de servir à coletividade, o que fez com que batalhasse arduamente para que Matão subisse à categoria de Município. Conseguindo colimar esse desiderato, foi eleito seu primeiro Prefeito.
Homem dotado de ilibado caráter, de ampla visão e de grande humildade, conseguiu conquistar os corações de todos. Na política não enfrentava obstáculos. Deve- se a ele a edificação do prédio da Câmara Municipal, o que fez com seus próprios recursos financeiros.
A política, no entanto, não era o seu objetivo, por isso, tão logo ele teve a sua Estrada de Damasco, representada pela sua conversão ao Espiritismo, abandonou esse campo, passando a dedicar- se inteiramente à nova Doutrina.
Conheceu o Espiritismo através de Manoel Pereira do Prado, mais conhecido por Manoel Calixto, que na época era um dos poucos e o mais destacado espírita do lugar. Embora não sendo profundo conhecedor dos princípios básicos da Codificação Kardequiana, Manoel Calixto conseguiu impressionar o futuro apóstolo, com uma mensagem mediúnica de elevado cunho espiritual, recebida por seu intermédio.
Em seguida a esse episódio, Caírbar integrou- se no conhecimento das obras fundamentais da Doutrina Espírita e, tão logo se sentiu compenetrado daquilo que ela ensina, fundou, no dia l5 de julho de 1904, o primeiro núcleo espírita da cidade e da zona, denominando- o "Centro Espírita Amantes da Pobreza".
Não satisfeito com essa arrojada realização, no mês de agosto de 1905, lançou a primeira edição do jornal "O Clarim", órgão esse que vem circulando desde então e que se constituiu, de direito e de fato, num dos mais tradicionais e respeitáveis veículos da imprensa espírita.
Numa época quando pontificava verdadeira intolerância religiosa e quando o Espiritismo e outras religiões sofriam o impacto da ação exercida pela religião majoritária, Caírbar Schutel também teve o seu Calvário: um sacerdote reacionário e profundamente intolerante, resolveu promover gestões no sentido de fechar as portas do Centro Espírita, usando como arma ardilosa uma campanha persistente no sentido de fazer com que a farmácia de Caírbar fosse boicotada pelo povo.
Com o apoio do delegado de polícia, conseguiu deste a ordem para o fechamento do Centro onde se difundia o Espiritismo. Caírbar Schutel, no entanto, não era dos que se intimidam e, contra o padre e o delegado, levantou a barreira da sua autoridade moral e da sua coragem. A ordem do delegado não foi respeitada por atentar contra a letra da Constituição Federal de 1891, e o valoroso espírita foi à praça pública protestar contra tamanho desrespeito. O padre, não tolerando aquela manifestação promovida por Caírbar, também promoveu uma passeata de desagravo. Outros sacerdotes, nessa época, já estavam em Matão, apregoando a necessidade de se manter o "herético" circunscrito, de nada se adquirirem sua farmácia, e, sobretudo proibindo a todos a freqüência ao Centro Espírita.
Em face da tremenda pressão exercida, Caírbar anunciou que falaria ao povo em praça pública, refutando ponto por ponto todas as acusações gratuitas que lhe eram atribuídas pelos sacerdotes. O delegado proibiu- o de falar. Caírbar não acatou a proibição do delegado e, estribando- se na Constituição, dirigiu- se para a praça pública, falando aos poucos que, não temendo as represálias do padre, tiveram a coragem de lá comparecer. Este, por sua vez, expressou a idéia de que, se a liberalíssima Constituição brasileira permitia esse direito a Caírbar, a Igreja de forma alguma consentiria e, aliciando um grupo de homens fanatizados, marchou para a praça pública, cantando hinos e cantorias fúnebres, portando, além disso, vários tipos de armas. O objetivo da procissão noturna era de abafar a voz do orador e atemorizar o povo.
Essa barulhenta manifestação provocou a repulsa de algumas pessoas cultas da cidade, as quais, dirigindo- se à praça, pediram a aquiescência do orador para, de público, manifestarem a desaprovação àquelas manifestações e responsabilizando o padre pelas conseqüências danosas daquele desrespeito à Carta Magna, afirmando que o orador tinha todo o direito de falar e de se defender. Diante dessa reação, o padre ficou assombrado e decidiu dispersar os acompanhantes, o que possibilitou a Caírbar prosseguir na defesa dos seus direitos e dos seus ideais.
Caírbar sabia ser amigo até dos seus próprios inimigos. Sempre inspirava simpatia e respeito. Sempre feliz no seu receituário, tornou- se, dentro em pouco, o Médico dos Pobres e o Pai da Pobreza, de Matão. Além de prescrever o medicamento, ele o dava gratuitamente aos necessitados. Sua residência tomou- se um refúgio para os pobres da cidade. Muitas pessoas eram socorridas pela sua generosidade. Muitos recebiam socorros da mais variada espécie, em víveres, em roupas e sobretudo assistência espiritual.
O sentimento de amor ao próximo teve nele incomparável paradigma. Estava sempre solícito e pronto para socorrer um enfermo ou um obsediado. Atos de renúncia e de desapego eram comuns em sua vida. Sua residência chegou a ser transformada em hospital de emergência para doentes mentais e obsediados. Em vista do crescente número de enfermos, em 1912 alugou uma casa mais ampla, na qual tratava com maiores recursos e com mais liberdade todos aqueles que apelavam para a sua ajuda fraternal.
No dia 15 de fevereiro de 1925, lançou o primeiro número da "Revista Internacional de Espiritismo", órgão que desde então vem circulando sem solução de continuidade.
Quando foi rasgada a Constituição ultra- liberal de 1891, Caírbar Schutel foi à praça pública apoiando a Coligação Nacional Pró- Estado Leigo, entidade fundada no Rio de Janeiro pelo Dr. Artur Lins de Vasconcelos Lopes. Nesse propósito combateu sistematicamente a pretensão, esposada por alguns grupos, de se introduzir o ensino religioso obrigatório nas escolas. Certa vez programou uma reunião num cinema de cidade vizinha para abordar esse tema. Na hora aprazada ali estavam apenas alguns dos seus amigos, dentre eles José da Costa Filho e João Leão Pitta. Caírbar não se perturbou. Mandou comprar meia dúzia de foguetes e soltou- os à porta do cinema. Daí a 20 minutos o recinto estava repleto.
Foi pioneiro no lançamento de programa espírita pelo rádio, pois em 1936 inaugurou, pela PRD- 4 -- Rádio Cultura de Araraquara, uma série de palestras que mais tarde publicou num volume de 206 páginas.
Como jornalista escreveu muito. Durante muito tempo manteve uma secção de crônicas e reportagens no "Correio Paulistano" e na "Platéia", antigos órgãos da imprensa leiga.
Sua bibliografia é bastante vasta, dela destacamos as seguintes obras: "Espiritismo e Protestantismo", "Histeria e Fenômenos Psíquicos", "O Diabo e a Igreja", "Médiuns e Mediunidade", "Gênese da Alma", "Materialismo e Espiritismo", "Fatos Espíritas e as Forças X", "Parábolas e Ensinos de Jesus", "O Espírito do Cristianismo", "A Vida no Outro Mundo", "Vida e Atos dos Apóstolos", "Conferências Radiofônicas", "Cartas a Esmo" e "Interpretação Sintética do Apocalipse".
Fundou também a Empresa Editora "O Clarim", que passou a editar livros de outros autores.
Caírbar Schutel foi um homem de fé, orador convincente, trabalhador infatigável, dinâmico, realizador e portador dos mais vivificantes exemplos de virtude cristã.
Divaldo Franco
Divaldo Franco nasceu em 5 de maio de 1927, na cidade de Feira de Santana, Bahia.
Desde a infância, comunica-se com os espíritos e é reconhecido como um dos maiores médiuns e oradores Espíritas da atualidade, sendo o maior divulgador da Doutrina Espírita por todo o mundo, sob a orientação espiritual de Joanna de Ângelis.
Fundou o Centro Espírita Caminho da Redenção em 1947 e a Mansão do Caminho em 1952. Esta última atende atualmente a cerca de 3.000 crianças, adolescentes e jovens de famílias de baixa renda, em regime de semi-internato e externato. Divaldo Franco revela-se, ainda, um exímio e devotado educador, com mais de 600 filhos adotivos e mais de 200 netos.
Orador com mais de 11.000 conferências, em mais de 2.000 cidades em todo o Brasil e em 62 países, concedeu mais de 1.100 entrevistas de rádio e TV, em mais de 450 emissoras. Recebeu mais de 700 homenagens de instituições culturais, sociais, religiosas, políticas e governamentais.
Como médium, publicou mais de 200 livros, com mais de 8 milhões de exemplares, em vários idiomas, onde se apresentam mais de 200 autores espirituais. A renda proveniente da venda dessas obras e os seus direitos autorais foram doados, em Cartório, à Mansão do Caminho e a outras entidades filantrópicas.
Eurípedes Barsanulfo
Nasceu em Sacramento, MG, em 01/05/1880. Desencarnou em Sacramento, em 1º/11/1918, com pouco mais de 38 anos de idade .Filho de Hermógenes de Araújo "seu Mogico" e de Jerônima Pereira de Almeida "dona Meca".
Terceiro filho de numerosa família mineira de 15 irmãos. Fisicamente franzino, teve uma infância muito pobre. Sua mãe era o centro de sua atenção, e por sofrer insidiosa enfermidade com crises periódicas constituía sua maior preocupação, apesar da pouca idade.
Ingressou no Colégio Miranda que lá se instalara, sob a orientação do prof. João Darwil de Miranda e do prof. Inácio Gomes de Mello. Tornou-se brilhante aluno, e foi promovido a instrutor de turmas e, finalmente, professor. Em 1901 seu Mogico é procurado pelo prof. Darwil e diz que nada mais tinha a ensinar ao jovem.
A infância e a juventude foram de pessoa religiosa e cumpridora de suas obrigações para com o catolicismo, que seguia com devoção. Ainda jovem ajudou a fundar o Grêmio Dramático Sacramentano, onde figurou como ator, local em que eram apresentadas diversas peças clássicas. Tornou-se amigo de Ormênio Gomes, que vindo a residir em Sacramento trouxe para lá preciosa biblioteca de livros homeopáticos, a qual teve acesso e absorveu vasta informação.
Aos 21 anos lançou a 'Gazeta de Sacramento", e como jornalista tinha a esperança de ajudar o povo culturalmente, e abrir um espaço aos interessados nas letras e informações. Aos 22 anos, com ilustres figuras da cidade, fundou em 31 de janeiro de 1902 o "Liceu Sacramentano", onde se tornou professor de diversas matérias, entre elas Francês e Geografia.
Após muita relutância, aceitou e se tornou vereador em 1903, ocupando então 04 postos, com grande carga de trabalho: jornalista, professor, vereador e secretário da Irmandade de São Vicente de Paulo. Foi vereador até 1910, quando renunciou a uma prorrogação de mandato por discordar do autoritarismo do então presidente do Estado de Minas Gerais. Sua vida se manteve neste ritmo até os vinte e cinco anos de idade, 1905, quando a espiritualidade marcava seu encontro com a doutrina espírita. Em visita ao padre Maia, recebe a bíblia para ler com algumas recomendações.
Antes de sua conversão ao espiritismo, alguns parentes seus realizavam sessões mediúnicas em Santa Maria, a 14 km. de Sacramento. As reuniões eram realizadas na casa do sr. Mariano Ferreira da Cunha (tio de Eurípedes). Ali, em 28 de agosto de 1.900, foi fundado o Centro Espírita "Fé e Amor". Vários médiuns notáveis trabalhavam a serviço do povo, com passes e remédios homeopáticos, por meio de receitas, psicografia, etc. Eurípedes sabia disso, mas dava pouca importância.
Recebe de presente o livro Depois da Morte de Léon Denis, ao qual Eurípedes deu uma rápida olhada e logo se interessou. Eurípedes preocupava-se muito com o bem-estar dos familiares que residiam em Santa Maria, devido aos fenômenos de efeitos físicos que ali ocorriam. Ganhando o livro do tio, leu-o mais demoradamente e consolidou sua impressão. Conceitos sobre a vida e a morte, a reencarnação, o destino do ser humano após a morte, tudo isso abalou sua alma estudiosa e sequiosa de conhecimentos. Recebe o convite para visitar Santa Maria. Volta para devolver a bíblia ao padre seu amigo, e lhe interroga sobre as bem-aventuranças, deixando-o intrigado.
Em Santa Maria Eurípedes assiste a primeira sessão mediúnica e por intermédio de um humilde médium, Aristides, ouve uma mensagem em francês, esclarecendo-o sobre o sermão da montanha, de Jesus, identificando-se o Espírito como João Evangelista. A 2ª sessão mediúnica – por meio do seu tio Mariano, em transe, ouve as primeiras e inesquecíveis palavras do dr. Bezerra de Menezes, que o saúda alegremente. A seguir, noutra incorporação ouve, Eurípedes, surpreso, uma comunicação do seu espírito protetor, São Vicente de Paulo, que lhe faz revelações de seu passado espiritual e da nova missão que deveria desempenhar. O retorno a Sacramento marca mudanças na vida de Eurípedes: possuído de nova fé, tem que enfrentar o Padre Maia, e a própria família, católica praticante. Mas, com toda serenidade afasta-se da Irmandade Vicentina, suportando toda a pressão, e ao comunicar o fato à sua mãe, ela cai, em nova crise. Neste momento Eurípedes percebe que a doença de sua genitora era obsessão, pois vê o espírito que a perturba. Em companhia de seu tio Sinhô (Mariano da Cunha) evoca tal espírito e ao afastá-lo de sua mãe consegue a cura tão pretendida de uma doença antiga.
Inicia Eurípedes suas pregações públicas no bairro da Zagaia, na periferia de Sacramento, falando aos pobres e enfermos (como outra fizera nos primórdios do cristianismo). Sua voz crescia e o povo o ouvia comovido a boa nova do espiritismo. A igreja se esvazia provocando a ira dos padres e beatos. Sofre várias tentativas de assassinato.
Na noite de 27 de janeiro de 1905, fundava em sua residência o Grupo Espírita Esperança e Caridade, onde se realizaria grande trabalho de doutrinação e esclarecimento de espíritos endurecidos, ocorrendo cura para muitas pessoas perturbadas.
Amplia Eurípedes o trabalho de sua farmácia, passando a atender intensivamente e gratuitamente a população local e pessoas vindas de outras regiões. Pela mediunidade recebe de dr. Bezerra de Menezes o receituário, promovendo o completo restabelecimento de muitos doentes. Sob a supervisão do mesmo Bezerra realiza as primeiras cirurgias, sem assepsia prévia ou anestesia, e tudo isso é uma resposta à campanha difamatória da igreja local. (Foi o primeiro médium curador a usar este procedimento no Brasil.)
Forçado a sair do Liceu Sacramentano, por causa da campanha da igreja, seus amigos o abandonam, os móveis do colégio são retirados e o prédio requerido pelo proprietário.
Em março de 1907, fundou o Colégio Allan Kardec, que se tornaria com o tempo, modelar instituição de ensino, oferecendo aos estudantes pobres de Sacramento e região uma nova possibilidade. O ensino ia do primário ao colegial, oferecendo metodologia moderna e eficiente. Visitado e inspecionado por autoridades de ensino, ganhou elogios e citações favoráveis. Eurípedes revelava-se um grande educador. Adotou o método de Pestalozzi, como grande novidade para aquele tempo. (Primeiro colégio espírita do mundo).
Cartas do Brasil inteiro, solicitando receituário e remédios chegam a Sacramento e Eurípedes completa o ciclo de suas mediunidades com psicografia, psicofonia, vidência, clauriaudiência, bi-corporeidade, transporte e cura.
Eurípedes sofre intensa campanha dos padres contra o seu trabalho, e suas ideias espíritas o levam a enfrentar em praça pública um debate com o famoso padre jesuíta Yague, de Campinas-SP. Este debate foi assistido por mais de 2000 pessoas, e Eurípedes vence seu oponente...
Em abril de 1917, chega a Sacramento, o Cel. Azarias Arantes, de Igarapava, que acometido de grave enfermidade, foi completamente curado pelo dr. Bezerra através de Eurípedes. Antes deste caso, já havia curado a sra. Maria Modesto, fundadora do sanatório espírita de Uberaba-MG. A repercussão desta cura e todas as outras levaram algumas pessoas a promoverem contra o médium indecoroso processo penal.
Eurípedes é processado por exercício ilegal da Medicina, fato que causa grande apreensão e sofrimento nos espíritas de Sacramento. Mas, depois de um ano de idas e vindas, não encontrando juiz que o quisesse julgar, o tal processo é arquivado e o réu "impronunciado".
A epidemia da gripe espanhola que assolou o mundo em 1918 chega à cidade de Sacramento, conforme previsão feita pelo próprio Eurípedes. Instalada a pandemia, Eurípedes desdobra-se dia e noite à cabeceira dos enfermos, ajudando centenas de famílias pobres. Esgotado fisicamente contrai a gripe. Acometido de febre insidiosa que o leva ao leito, Eurípedes percebe que havia chegado o término de sua missão aqui na Terra. No dia 1º de novembro de 1918, às 18horas, rodeado de parentes e amigos, Eurípedes retorna à Pátria Espiritual, legando à posteridade o exemplo de uma vida dedicada integralmente à vivência do amor e à prática da caridade.
Bibliografia:
NOVELINO, Corina. Eurípedes o homem e a missão. Araras:IDE, 1979.
NOVELINO, Corina. A grande espera. Pelo Espírito Eurípedes Barsanulfo. Araras:IDE,1991.
RIZZINI, Jorge. Eurípedes Barsanulfo o apóstolo da caridade. 3ª ed. São Bernardo do Campo: Editora Espírita Correio Fraterno do ABC, 1981.
Francisco Cândido Xavier
Francisco Cândido Xavier nasceu em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, em 2 de abril de 1910.
Foi um médium e célebre divulgador do Espiritismo no Brasil. Seu primeiro contato com a Doutrina Espírita foi em 1927, quando iniciou o estudo da doutrina e o desenvolvimento de sua mediunidade. Emmanuel foi o seu orientador espiritual.
Chico Xavier, como ficou popularmente conhecido, psicografou mais de quatrocentos livros. Nunca admitiu ser o autor de nenhuma dessas obras, pois apenas reproduzia o que os espíritos lhe ditavam. Por esse motivo, não aceitava o dinheiro arrecadado com a venda de seus livros. Os direitos autorais foram cedidos para organizações espíritas e instituições de caridade desde o primeiro livro.
Chico Xavier desencarnou em Uberaba, em 30 de junho de 2002.
Léon Denis
Léon Denis nasceu em 1 de Janeiro de 1846, em Foug, na Lorena francesa.
É considerado o consolidador do Espiritismo. Aos 18 anos, autodidata com inclinações literárias e filosóficas, leu o Livro dos Espíritos e tornou-se adepto da Doutrina Espírita. Após a desencarnação de Kardec, ficou responsável pelo desenvolvimento dos estudos doutrinários e das pesquisas mediúnicas. Impulsionou o movimento espírita na França e no mundo, aprofundando o aspecto moral da doutrina.
Além de ser o autor de numerosas obras a respeito da Doutrina Espírita, foi também brilhante orador, participando de numerosas conferências, onde defendeu a nova doutrina com inteligência e ardor. Em 1925 foi aclamado presidente do Congresso Espírita Internacional, em Paris, no qual foi fundada a Federação Espírita Internacional.
A sua grande produção na literatura espírita, bem como o seu caráter afável e abnegado, valeram-lhe o título de Apóstolo do Espiritismo.
Desencarnou em Tours, em 12 de abril de 1927.
Santo Agostinho
Quem foi Santo Agostinho? O que nos deixou quando esteve encarnado? Qual a sua importância na codificação da Doutrina Espírita? As suas comunicações têm algum ranço do catolicismo? Para melhor conhecer esse Espírito, anotaremos os seus dados biográficos, os livros que publicou e as comunicações mediúnicas arroladas nas obras espíritas.
DADOS BIOGRÁFICOS
Agostinho (354-430 d.C.) nasceu em Tagaste, norte da África, quando o Império Romano estava sendo destruído pelas invasões bárbaras. Seu Pai, Patrício, era pagão; sua mãe, Mônica, posteriormente Santa Mônica, era cristã. Aos 16 anos, foi estudar direito em Cartago, mas em 375 começou a se dedicar à filosofia, como resultado da leitura de Hortêncio, de Cícero. Converteu-se ao Maniqueísmo e tornou-se professor de retórica em Roma, em 383. De Roma, foi para Milão, onde se viu tomado pelo carisma do bispo cristão Ambrósio. Por algum tempo, atraiu-o o neoplatonismo, mas depois de longa e dolorosa luta tornou-se cristão em 386, recebendo o batismo de Ambrósio na Páscoa de 387. Sua intenção era levar uma vida “monástica”, mas em 391 foi ordenado, contra a sua vontade, bispo de Hipona (hoje Annaba, na Argélia). Foi bispo durante trinta e quatro anos, tempo em que escreveu copiosamente, combateu heresias e viveu em comunidade com outros cristãos. Aos 76 anos de idade, foi morto Hipona, durante cerco da cidade pelos vândalos. (Raeper, 1997, p. 25)
AS DUAS PRINCIPAIS OBRAS DEIXADAS POR SANTO AGOSTINHO
CONFISSÕES
As Confissões de Santo agostinho, iniciada em 391 e concluída em 400, é uma obra fascinante. São treze livros, dos quais 9 auto-biografados e 4 teologais. Nela se apresenta como o Filho Pródigo e a Ovelha Perdida do Evangelho de Lucas – perdido e depois encontrado, tal como o apóstolo Paulo.
Procura mostrar pelo seu exemplo o que pode a graça para os mais desesperados dos pecadores. Com admirável franqueza e contrição confessa os desregramentos de sua mocidade (teve inclusive um filho bastardo, Adeodato), sempre atribuindo a si mesmo as tendências perversas e a Deus os progressos de seu espírito para o bem. Foi um homem em permanente batalha contra as suas próprias emoções e fraquezas.
Discute também questões acerca do tempo e a presença do mal no mundo.
CIDADE DE DEUS
Os principais temas são: a vontade humana, as relações entre teologia e razão e divisão da história entre as duas cidades – dos homens e de Deus.
O pensamento político contido na Cidade de Deus forja-se no encontro de duas tradições: a da cultura greco-romana e a das Escrituras judaico-cristãs. Da Antigüidade grega Agostinho retém as idéias de Platão (República e Leis). Traça, assim, os planos de uma cidade ideal, a Cidade de Deus, em contrapartida com a da cidade terrestre, em que predomina a guerra, a injustiça, o egoísmo etc. Para ele, a verdadeira administração de uma cidade deve estar baseada na justiça, e esta por sua vez na caridade, ensinada por Cristo.
ORIGENS DO PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO
Santo Agostinho usou a filosofia a serviço da teologia, adotando as idéias platônicas e neoplatônicas e as moldando de acordo com a sua visão de mundo. Da mesma forma que Platão, acreditava que a alma habitava um corpo. Dizia: “O homem é uma alma racional habitando um corpo mortal”.
Em relação ao platonismo, o posicionamento de Santo Agostinho não é meramente passivo, pois o reinterpreta para conciliá-lo com os dogmas do cristianismo, convencido de que a verdade entrevista por Platão é a mesma que se manifesta plenamente na revelação cristã. Assim, apresenta uma nova versão da teoria das idéias, modificando-a em sentido cristão, para explicar a criação do mundo. Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as idéias divinas. Essas idéias ou razões não existem em um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o testemunho da Bíblia. (Rezende, 1996, p. 77 e 78).
FÉ, RAZÃO E REVELAÇÃO
Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução – o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.
SANTO AGOSTINHO E O ESPIRITISMO
INSTRUÇÕES MEDIÚNICAS DADAS POR SANTO AGOSTINHO
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontra-se algumas comunicações deste insigne Espírito. São elas: Os Mundos de Expiações e de Provas, Mundos Regeneradores e Progressão dos Mundos (Cap. 3, 13 a 19), O Mal e o Remédio (Cap. 4, 19), O Duelo (Cap. 12, 11 e 12), A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família (Cap. 14, 9) e Alegria da Prece (Cap. 27, 23).
Em O Livro dos Médiuns há anotações Sobre o Espiritismo (Cap. 31, 1) e Sobre as Sociedades Espíritas (Cap. 31, 16).
O PONTO DE VISTA DO ESPÍRITO ERASTO
O Espírito Erasto, discípulo de São Paulo, em uma de suas comunicações enfatiza:
1) Santo Agostinho é um dos maiores divulgadores do Espiritismo; ele se manifesta quase que por toda parte.
2) Como muitos, ele também foi arrancado do paganismo.
3) Em meio de seus excessos, sentiu o alerta dos Espíritos superiores: a felicidade se encontra alhures e não nos prazeres imediatos.
4) Depois de ter perdido a sua mãe, disse: “Eu estou persuadido de que minha mãe voltará a me visitar e me dar conselhos, revelando-me o que nos espera a vida futura”.
5) Hoje, vendo chegada a hora para a divulgação da verdade que ele havia pressentido outrora, se fez dela o ardente propagador, e se multiplica, por assim dizer, para responder a todos aqueles que o chamam. (Kardec, 1984, cap. 1, item 11, p. 41)
NOTA DE ALLAN KARDEC
Santo agostinho veio destruir aquilo que edificou? Não. Ele agora vê com os olhos do espírito; sua alma liberta da matéria entrevê novos horizontes, que lhe propiciam compreender o que não compreendia antes. Sobre a Terra, julgava as coisas segundo os conhecimentos que possuía, mas, quando uma nova luz se fez para ele, pode julgá-las mais judiciosamente. “Foi assim que mudou de idéia sobre sua crença concernente aos Espíritos íncubos e súcubos e sobre o anátema que havia lançado contra a teoria dos antípodas”. Com uma nova luz pode, sem renegar a sua fé, fazer-se propagador do Espiritismo, porque nele vê o cumprimento das coisas preditas. Proclamando-o, hoje, não faz senão nos conduzir a uma interpretação mais sã e mais lógica dos textos. (Kardec, 1984, cap. 1, p. 42)
CONCLUSÃO
A reflexão sobre a vida deste filósofo e religioso da época patrística nos revela que o progresso espiritual é uma constante. Será que o Espírito estaria pensando da mesma maneira, depois da sua experiência como católico? Não seria mais racional crer que ele tenha sido bafejado pelas luzes da verdade?
VOCABULÁRIO
Antípoda – Habitante que, em relação a outro do globo, se encontra em lugar diametralmente oposto.
Cícero (106-43)– Brilhante orador e político romano que se inspirava no ecletismo – a busca de um acordo entre os ensinamentos das escolas platônica, aristotélica, hedonista etc.
Íncubo – Demônio masculino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com uma mulher, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos.
Maniqueísmo – Seita persa que afirmava ser o Universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal, mantendo uma incessante luta entre si. doutrina que reduz a realidade à oposição irredutível de dois princípios contraditórios, o Bem e o Mal, aos quais correspondem as realidades espirituais e materiais.
Neoplatonismo – Movimento filosófico do período greco-romano desenvolvido por pensadores inspirados em Platão. Entre os neoplatônicos, citam-se Plotino (205-270), Proclo (411-485). O neoplatonismo se espalhou por diversas cidades do Império Romano, sendo marcado por sentimentos religiosos e crenças místicas.
Patrística – Dá-se ao nome de patrística à fase de fundamentação e da fixação dos dogmas cristãos. Essa grande obra foi realizada pelos primeiros padres da Igreja, nos primeiros séculos da era cristã. Eles buscavam estabelecer e explicar a doutrina cristã, mostrando que ela era perfeitamente digna de ser aceita pelas autoridades romanas e pelo povo em geral.
Súcubo - Demônio feminino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com um homem, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
RAEPER, W. e SMITH, L. Introdução ao Estudo das Idéias: Religião e Filosofia no Presente e no Passado. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Loyola, 1997.REZENDE, A. (Org.). Curso de Filosofia: para Professores e Alunos dos Cursos de Segundo Grau e de Graduação. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
Yvonne do Amaral Pereira
Yvonne do Amaral Pereira (YPHONE na certidão de nascimento) nasceu na antiga Villa de Santa Thereza de Valença, no sítio do Rapa-queijo, hoje Rio das Flores, sul do estado do Rio de Janeiro, às 6 horas da manhã. O pai, um pequeno negociante, Manoel José Pereira Filho e a mãe Elizabeth do Amaral Pereira. Teve 5 irmãos mais moços e um mais velho, filho do primeiro casamento da mãe.
Aos 29 dias de nascida, depois de um acesso de tosse, sobreveio uma sufocação que a deixou como morta (catalepsia ou morte aparente). O fenômeno foi fruto dos muitos complexos que carregava no espírito, já que, na última existência terrestre, morrera afogada por suicídio. Durante 6 horas permaneceu nesse estado.
O médico e o farmacêutico atestaram morte por sufocação. O velório foi preparado. A suposta defunta foi vestida com grinalda e vestido branco e azul. O pequeno caixão branco foi encomendado. A mãe se retirou a um aposento, onde fez uma sincera e fervorosa prece a Maria de Nazaré, pedindo para que a situação fosse definida, pois, não acreditava que a filha estivesse morta. Instantes depois, a criança acorda aos prantos.
Todos os preparativos foram desfeitos. O funeral foi cancelado e a vida seguiu seu curso normal. O pai, generoso de coração, desinteressado dos bens materiais, entrou em falência por três vezes, pois favorecia os fregueses em prejuízo próprio. Mais tarde tornou-se funcionário público, cargo que ocupou até sua desencarnação, em 1935.
O lar sempre foi pobre o modesto, conheceu dificuldades inerentes ao seu estado social, o que, segundo ela, a beneficiou muito, pois bem cedo se alheou das vaidades mundanas e compreendeu as necessidades do próximo. O exemplo de conduta dos pais teve influência capital no futuro comportamento da médium. Era comum albergar na casa pessoas necessitadas e mendigos.
Aos 4 anos já se comunicava áudio - visualmente com os espíritos, aos quais considerava pessoas normais encarnadas. Duas entidades eram particularmente caras: O espírito Charles, a quem considerava pai terreno real, devido a lembranças vivas de uma encarnação passada, em que este espírito fora seu pai carnal. Charles, o espírito elevado, foi seu orientador durante toda a sua vida e atividade mediúnica.
O espírito Roberto de Canallejas, que foi médico espanhol em meados do século XIX era a outra entidade pela qual nutria um profundo afeto e com a qual tinha ligações espirituais de longa data e dívidas a saldar. Mais tarde, na vida adulta, manteria contatos mediúnicos regulares com outras entidades não menos evoluídas, como o Dr. Bezerra de Menezes, Camilo Castelo Branco, Frederic Chopin e outras.
Aos 8 anos repetiu-se o fenômeno de catalepsia, associado a desprendimento parcial. Aconteceu à noite e a visão que teve, a marcou pelo resto da vida. Em espírito, foi parar ante uma imagem do "Senhor dos Passos", na igreja que freqüentava. Pedia socorro, pois sofria muito. A imagem, então, cobrando vida, lhe dirigiu as seguintes palavras:
"Vem comigo minha filha, será o único recurso que terás para suportar os sofrimentos que te esperam", aceitou a mão que lhe era estendida, subiu os degraus e não lembra de mais nada. De fato, Yvonne Pereira foi uma criança infeliz. Vivia acossada por uma imensa saudade do ambiente familiar que tivera na sua última encarnação na Espanha e que lembrava com extraordinária clareza.
Considerava seus familiares, principalmente seu pai e irmãos, como estranhos. A casa, a cidade onde morava, eram totalmente estranhas. Para ela, o pai verdadeiro era o espírito Charles e a casa, a da Espanha. Esses sentimentos desencontrados e o afloramento das faculdades mediúnicas faziam com que tivesse comportamento considerado anormal por seus familiares. Por esse motivo, até os dez anos, passou a maior parte do tempo na casa da avó paterna.
O seu lar era espírita. Aos 8 anos teve o primeiro contato com um livro espírita. Aos 12, o pai deu-lhe de presente "O Evangelho segundo o Espiritismo" e o "Livro dos Espíritos", que a acompanharam pelo resto da vida, sendo a sua leitura repetida, um bálsamo nas horas difíceis. Aos 13 anos começou a freqüentar as sessões práticas de Espiritismo, que muito a encantavam, pois via os espíritos comunicantes. Teve como instrução escolar o curso primário.
Não pode, por motivos econômicos, fazer outros cursos, o que representou uma grande provação para ela, pois amava o estudo e a leitura. Desde cedo teve que trabalhar para o seu próprio sustento, e o fez com a costura, bordado, rendas, flores, etc. A educação patriarcal que recebeu, fez com que vivesse afastada do mundo. Isto, por um lado, favoreceu o desenvolvimento e recolhimento mediúnico, mas por outro, a tornou excessivamente tímida e triste.
Como já vimos, a mediunidade apresentou-se nos primeiros dias de vida terrena, através do fenômeno de catalepsia, vindo a ser este, um fenômeno comum na sua vida a partir dos 16 anos. A maior parte das reportagens de além-túmulo, dos romances, das crônicas e contos relatados por Yvonne Pereira, foram coletados no mundo espiritual através deste processo, na hora do sono reparador.
A sua mediunidade, porém, foi diversificada. Foi médium psicógrafo e receitista (Homeopatia) assistida por entidades de grande elevação, como Bezerra de Menezes, Charles, Roberto de Canallejas, Bittencourt Sampaio. Praticou a mediunidade de incorporação e passista.
Possuía mediunidade de efeitos físicos, chegando a realizar algumas sessões de materialização, mas nunca sentiu atração por esta modalidade mediúnica. Os trabalhos, no campo da mediunidade, que mais gostava de fazer eram os de desdobramento, incorporação e receituário.
Como foi dito, através do desdobramento noturno que Yvonne Pereira navegava através do mundo espiritual, amparada por seus orientadores, coletando as crônicas, contos e romances com os quais hoje nos deleitamos.
Como médium psicofônico, pode entrar em contato com obsessores, obsidiados, e suicidas, aos quais, devotava um carinho especial, sendo que muitos deles tornaram-se espíritos amigos. No receituário homeopático trabalhou em diversos centros espíritas de várias cidades em que morou durante os 54 anos de atividade.
Foi uma médium independente, que não se submetia aos entraves burocráticos que alguns centros exercem sobre seus trabalhadores, seguia sempre a "Igreja do Alto" e com ela exercia a caridade a qualquer hora e a qualquer dia em que fosse procurada pelos sofredores.
Foi uma esperantista convicta e trabalhou arduamente na sua propaganda e difusão, através de correspondência que mantinha com outros esperantistas, tanto no Brasil, quanto no exterior. Desde muito pequena cultivou o estudo e a boa leitura.
Aos 16 anos já tinha lido obras dos grandes autores como Goethe, Bernardo Guimarães, José de Alencar, Alexandre Herculano, Arthur Conan Doyle e outros. Escreveu muitos artigos publicados em jornais populares. Todos foram perdidos.